segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O nazismo está aqui

Manuel Bertelli publicou hoje, no site http://www.bluebus.com.br/, nota em que critica a veiculação, pela TV, de uma das muitas chacinas no Rio de Janeiro. Ele diz:
"Não acreditei nas imagens que vi no Jornal Nacional, dos policiais atirando de cima do helicóptero em dois homens correndo desarmados, e a mídia nao ter se pronunciado até agora sobre o ocorrido. Estamos tão anestesiados a ponto de achar normal ver uma cena de massacre na TV em favor do 'bem'? Será que os dois homens eram tão perigosos desarmados a ponto de precisarem ser abatidos como bichos de cima de um helicóptero? Cercar e prender é coisa do passado? Ainda tento entender por que veicularam essas imagens na TV e por que a mídia não se pronunciou. É revoltante! Senti o mesmo quando a Scotland Yard matou Jean Charles por suspeitar ser um terrorista".
Não resisti e encaminhei para Bertelli um e mail destacando que a mídia desumanizou-se. E até para minha supresa, eu soube, logo depois, que essa desumanização é ainda pior do que eu imaginava. Bertelli me respondeu, imediatamente, que desde o momento da publicação da nota pelo Blue Bus, ele só tem recebido mensagens de ódio, como se estivesse a defender o crime.
Esses são os brasileiros de classe média, hoje. Pelo menos são assim os que lêem o Blue Bus, um site visitado principalmente por publicitários e por quem trabalha com outras mídias. Imagino que, em alguma hora próxima, este País vai se transformar num revival de Berlim no final dos anos 30. E desta vez todo mundo pregando, não apenas o genocídio, mas o sociocídio. Credo!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Eugenia, de assustar

Esse tal biólogo James Watson, 79, ganhador do Prêmio Nobel por ter descoberto a estrutura do DNA juntamente com Francis Crick, em 1953, já deveria estar condenado à prisão. Ontem ele deu declarações racistas ao jornal britânico "The Sunday Times", quando disse que os africanos são menos inteligentes do que ocidentais e, por causa disso, a África não tem futuro. Tudo isso também está dito no seu recém-lançado livro "Avoid Boring People" (Evite Pessoas Chatas).
Não vou reproduzir literalmente o que ele disse, porque não tem sentido. Mas o eugenista (igualzinho aos alemães que em meados do século XX escandalizaram o mundo) já tinha afirmado, no livro "Genes, Girls and Gamow", ser favorável a um tratamento genético para deixar mulheres feias mais bonitas, ser favorável ao aborto se as grávidas pudessem saber que a criança vai nascer homossexual, etc.etc.
Estou recebendo e mails de pessoas indignadas, que propõe medidas contra esse Hitlerzinho. Abaixo-assinados, boicote à compra dos livros, etc. Eu não passo nem perto de um livro com esse conteúdo. Mas acho que as livrarias e distribuidoras que decidirem vendê-lo devem, si, serem punidas. Dar argumentos intelectuais aos racistas é grave. Já chega o nosso sistema, que faz morrer tantos negros pobres por causas violentas, pobreza, desesperança. Bastam as políticas evidentemente eugenistas que temos aqui.

Recortei e colei

Pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Gasto e Consumo das Famílias Brasileiras Contemporâneas, mostra que o acesso à cultura encabeça a lista de desigualdades entre ricos e pobres, seguido pelo acesso à educação. O estudo revela que as famílias mais ricas gastam 30% a mais que as mais pobres com educação e que quanto maior a renda e a escolaridade dos chefes de família, maior o investimento.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Marketing Cultural

Muito significativas as diferenças de visão da Natura e do Santander sobre marketing cultural. As filosofias das empresas, quase divergentes uma da outra, ficaram expressas durante um evento realizado hoje na Amcham (Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos).
O Santander, um dos maiores bancos do mundo, mantém um centro cultural em Porto Alegre, num prédio histórico que já pertenceu ao banco Meridional. Todos os eventos realizados no Santander Cultural, de qualidade indiscutível, são subsidiados pela Lei Rouanet ou outras de incentivo fiscal. O Santander gastou pouco mais que alguns tostões para reforçar sua marca naquela capital. Tudo foi feito com base no marketing cultural. E todos os custos foram cobertos por impostos não recolhidos, a título de patrocínio cultural.
O Santander faz, de fato, uma ótima gestão de cultura. Mas, também sem dúvida, com verbas que poderiam ser mais úteis, se levassem cultura para uma população já carente de todas as outras necessidades básicas: habitação, saúde, segurança e educação. O Santander Cultural é para a classe média.
A Natura, agradável como é, tem outra visão de como se deve fazer Marketing Cultural. Ou melhor, tem outra ética. Usa o marketing Cultural para trabalhar a marca e os conceitos da empresa, como faz o marketing por definição, mas a Natura, que patrocina projetos musicais, faz questão de colocar verba própria na realização desses projetos, em percentuais que chegam a 70% dos custos, contra 30% subsidiados pelas Leis de Incentivo.
Nada mais justo. Se o Marketing Cultural é estratégia de comunicação e gestão de marca, as empresas devem pagar por isso.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

CPMF

Grande sacada essa do governo federal. Para aprovar a prorrogação da CPMF, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO), sugeriu isentar da cobrança do imposto as pessoas com renda mensal de até R$ 1.700. Seria ótimo. Afinal, o CPMF serve, sobretudo, para revelar grandes sonegadores. E deve ser mantido até por causa disso. O resto é campanha contra um instrumento que torna mais transparente a lista de milionários e corruptores no Brasil.

Negros e jovens

Luiz Eduardo Soares e Miriam Guindani são cariocas e estudam em profundidade a violência no Rio de Janeiro. Mas os resultados do trabalho dos autores pode ser transposto para qualquer grande capital do País, como São Paulo. Eles escreveram um capítulo do livro O Brasil tem jeito? Mostram que no Brasil morrem, todos os anos, 45 mil pessoas vítimas de crimes intencionais. Fechando o foco, mostram que entre esses morrem 100 homens com idades entre 15 e 24 anos, por 100 mil jovens do sexo masculino. Os que morrem são, em sua maioria, pobres e negros. São eles que menos têm acesso à renda, escolaridade, habitação, transporte e infra-estrutura urbana. São os que mais se expõem a riscos.

Trabalho escravo

Ontem estive num lançamento de livro na Cultura. Organizado por dois jornalistas cariocas, Arthur Ituassu e Rodrigo de Almeida, o livro O Brasil tem jeito? volume 2, mereceu uma palestra bem legal. Adib Jatene falou sobre a corrupção endêmica e a sonegação que comprometem a qualidade da Saúde no País. Dalmo Dallari falou sobre o Judiciário e suas transformações. Para tratar do tema, e da interferência do Legislativo na atuação do Judiciário, Dallari lembrou a história do Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), encarregado de combater o trabalho escravo no Brasil.

O DEM retomou suas atividades nesta semana, depois de um termo de cooperação técnica com a Advocacia-Geral da União (AGU), que dará suporte jurídico aos fiscais. As operações estavam paradas desde o dia 21 de setembro, quando cinco senadores passaram a pressionar a atuação do grupo. Um deles, de reconhecido comprometimento com o que existe de pior no País, é paulista, o senador Romeu Tuma (DEM-SP). Os outros são Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Kátia Abreu (DEM-TO), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Todos questionaram a libertação de 1.064 trabalhadores na fazenda de cana e usina Pagrisa, em Ulianópolis (PA). Chegaram ao limite de acionar a Polícia Federal para verificar os procedimentos adotados pelo grupo móvel durante a fiscalização. Só faltou apontarem armas para os fiscais.

Não dá para esquecer que em 2004, três auditores e um motorista do MTE foram mortos, em Unaí (MG), durante uma fiscalização de rotina.

De acordo com o relatório produzido pelo grupo móvel, os trabalhadores da Pagrisa não ganhavam salários, porque a empresa fazia descontos ilegais. Além disso, a comida estava estragada e a água para beber era a mesma utilizada na irrigação da cana que, de tão suja, parecia caldo de feijão. Que tal esses usineiros?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

É o fim

O povo da cana e álcool consome muita água. O processamento da cana-de-açúcar exige cinco mil litros de água para processar uma tonelada de cana, segundo a Agencia Nacional da Água. Criar mais usinas em São Paulo vai fazer os últimos riachos secarem.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A gula da elite rural

O lobby da cana-de-açúcar está atuando forte. Esse é o principal assunto da mídia, desde jornalões de grande circulação até jornalecos de universidades, como o Jornal da USP. Todo mundo pregando a favor dessa cultura. Na FSP de hoje, sábado, o ex-ministro Antonio Cabrera festeja "a maior safra sucroalcooleira da história" e, sem vergonha, emenda, "sem pensarmos na Amazônia ou no Pantanal". O Jornal da USP reproduz as conclusões da Conferência Nacional de Bioenergia (Bioconfe), realizada em setembro, e dá destaque para a opinião do físico José Goldemberg, que afirma, categórico: "os biocombustíveis não provocarão queda na produção de alimentos".
É impressionante a cara de pau dessa elite. Até a FAO, órgão da ONU que pouco se lixa para países em desenvolvimento, diz que a demanda por biocombustíveis fará com que os custos de importação dos alimentos subam pelo menos 5% em relação a 2006. Entre os países que mais sofrerão com a alta dos custos de importação está o Brasil. Só prá ressaltar, o custo para importação dos alimentos para os países “em desenvolvimento” já é 90% maior do que em 2000. E note-se: o Brasil importar comida é demais!
Morei muitos anos numa cidade do interior de São Paulo, chamada Taquaritinga, onde o cultivo de frutas era forte. Mangas, goiabas, abacates, laranjas coloriam os campos, quando maduras. Dava gosto ver tanta fruta. Hoje quase tudo parece um mar de cana, um deserto. Que triste!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Farsa

É impressionante como nada, nenhuma ação dos governos, quaisquer que eles sejam, é estrutural. Todas as medidas são tomadas para que as coisas fiquem como estão, privilegiando a eterna elite. A questão de ordem do dia é o cultivo da cana-de-açúcar para o etanol, menina dos olhos, neste momento, do incorruptível presidente Lula. Em São Paulo, não existe mais um milímetro de terra a ser plantado. Mas projetos de 45 usinas estão em Brasília para serem aprovados. Todas (todas!) essas usinas para serem instaladas em terras paulistas. Claro que para suprir tanta usina será preciso plantar mais cana. E aí, adeus! Poderemos dar adeus ao cultivo, por exemplo, de frutas (cultivo forte na região da araraquarense). Tudo vai dar lugar para a cana.
Então, para a coisa ficar ainda pior, me deparo, ontem à noite, com a seguinte notícia: ruralistas, indústrias, o agronegócio enfim, estão discutindo as mudanças no Código Florestal. A idéia dos insaciáveis é permitir que áreas desmatadas em vários biomas brasileiros, como a Mata Atlântica, possam ser usadas sem maiores entraves para monoculturas como a cana-de-açúcar. Já podemos começar a dizer, em definitivo, bye bye a qualquer projeto de biodiversidade.