terça-feira, 6 de maio de 2008

Roteiro para um documentário


O Ministério Público está investigando a ligação do secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Lauro Malheiros Neto, com o investigador Augusto Peña, que está preso por suspeita de, entre outros crimes, extorquir dinheiro do PCC. A Corregedoria da Polícia Civil ouviu a ex-mulher de Peña, Regina Célia Lemes de Carvalho, que reafirmou a versão de que Malheiros Neto recebia dinheiro do investigador para ajudá-lo dentro da polícia. Entre os supostos favores está a transferência de Peña de Suzano (Grande São Paulo), onde realizava serviços administrativos, para o Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), uma espécie de promoção. Foi então que, como se diz na gíria da bandidagem, a “casa caiu”.
Pena foi acusado do seqüestro de Rodrigo Olivatto de Morais, o enteado de Marcola, líder máximo do PCC, pelo Gaerco. Até sua prisão e a de seu parceiro José Roberto Araújo, Pena vinha recebendo autorização para fazer interceptações telefônicas. No caso de Rodrigo, disseram que as interceptações não tinham levado a nada interessante. Mas mantiveram o enteado de Marcola preso 48 horas numa delegacia de Suzano. Para liberá-lo cobraram R$ 300 mil do PCC.
Penã também tinha armado outros grampos telefônicos para tomar mais dinheiro da cúpula do PCC, para desvio de carga e para achacar a máfia dos caça-níqueis e bingos. Por conta dessas ações, juízes foram enganados, promotores grampeados, policiais acusados, bandidos achacados e seqüestrados. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaerco), confirmou que o policial e seus comparsas usavam denúncias anônimas ou fabricavam relatórios de investigação para justificar o pedido de quebra de sigilo telefônico. Na lista, incluíam diversos números. A farra era tão grande que há, entre os documentos, um pedido de dados cadastrais dos telefones de 61 números de CPFs em um único ofício policial.
Em 2006 Pena teria grampeado o telefone do promotor José Mário Barbutto, do Gaerco de Guarulhos. Para tanto, incluiu o telefone de Barbutto em um relatório de investigações como se fosse o aparelho de um suspeito de ligação com criminosos. Assim, a Justiça deferiu o pedido de grampo. Os pedidos de escutas eram sempre assinados por delegados de Suzano, que referendavam os ofícios feitos pelos investigadores. A mulher de pena disse para a Corregedoria da Polícia que seu marido ficava até três meses ouvindo uma linha. Quando se cansava, fazia uma edição para incriminar alguém e procurava o advogado da vítima. Exigia então propina em troca do CD.
Quanto à Malheiros, ele não é acusado apenas por suas relações com Pena. Nove policiais militares fizeram, durante 23 dias consecutivos (de 19 de janeiro a 10 de fevereiro), inclusive durante o Carnaval, a escolta pessoal da sua ex-mulher e sua filha de seis anos que passavam férias no Guarujá. A Secretaria da Segurança Pública emitiu uma nota oficial afirmando que havia uma situação concreta de risco.
A denúncia atual contra Malheiros é da mulher de Pena, que diz ter ouvido o ex-marido dizer que dava parte do dinheiro obtido com achaques e desvio de cargas para secretário adjunto de Segurança. Até mesmo em entrevistas coletivas para jornalistas ela contou que Pena deu R$ 100 mil de propina ao secretário-adjunto depois de furtar, em 2007, uma carga de Playstation apreendida em São Paulo pelos policiais da Delegacia de Estelionato do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Enquanto nada se apura, Malheiros continua secretário adjunto de uma das pastas mais importantes do governo Serra. Ele é ex-delegado da Polícia Civil, trabalhou no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e no Departamento de Investigação sobre o Narcotráfico (Denarc).

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