sábado, 25 de abril de 2009

Hilda Hilst

E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia... Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas... Perguntei: "E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?" Resposta: "Tive de matá-los". "Mas por quê?!" Resposta: "Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos". "Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?" Olhou-me aparvalhado: "Mas onde? Pra quem?" "E como você os matou?" "A pauladas", respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles. E por aí a gente pode ir, ao infinito. Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las? Oscar, traga os meus sais. (Hilda Hilst)

Um comentário:

  1. Nilza seu blog está maravilhoso. Essa sua foto de cabeça pra baixo me fez lembrar minha infância quando brincávamos em balanços de árvores...fiquei pensando "o que será terremoto" em meus poemas? Talvez tudo. Eu não acredito mais em mundo...eu só vejo os buracos negros de Stephen Hawking.
    beijos saudosos.
    www.rosakapila.zip.net

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