Uma nova forma de contato da imprensa com a Câmara Municipal de Franca começa a vigorar a partir de terça-feira. Jornalistas serão obrigados a assistir às sessões fora do plenário e terão o acesso restrito ao setor administrativo. Servidores e diretores estão proibidos de fornecerem informações sob pena de cometerem falta grave. Notícias só por meio da assessoria de imprensa. As medidas implantadas pelo presidente Joaquim Pereira Ribeiro (PSB) provocaram intensa repercussão negativa na cidade. Dezenas de telefonemas e e-mails foram enviados à redação repudiando a blindagem.
Fora de Franca, autoridades também se posicionaram contra a tentativa de controle de informação. O senador Eduardo Suplicy, uma das mais influentes lideranças petistas e ferrenho defensor da liberdade de imprensa, foi uma das vozes contrárias. De Munique, onde está para ministrar palestra no Encontro Ecumênico das Igrejas da Alemanha sobre a perspectiva de renda básica de cidadania no Brasil, ele falou com o Comércio por celular na manhã de sexta-feira. “Na medida em que um Poder tem a função de legislar e fiscalizar, é muito importante que na própria casa seja dado o exemplo”.
O jornalista Sérgio Vieira sabe muito bem o que é uma tentativa de intimidar a imprensa. Ele é o chefe de reportagem do jornal O Diário do Grande ABC, publicação que está sob censura. O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), recorreu à Justiça, impedindo que o jornal publique reportagens sobre o descarte da administração municipal de carteiras escolares em bom estado de conservação. Ele classificou como absurdas as normas aprovadas pela Câmara de Franca. “É uma censura branca. No momento democrático em que vivemos, é inaceitável que a classe política prive a sociedade de ter acesso às informações. O caso de Franca, no meu entender, é mais grave por ser velado”.
Renato Delicato Zaiden, presidente da APJ (Associação Paulista de Jornais), entidade que reúne 14 dos principais jornais regionais do Estado, entre eles o Comercio da Franca, classificou as restrições impostas à imprensa como um retrocesso para uma cidade de vanguarda como Franca. “É melhor dar a informação verdadeira por uma pessoa não autorizada, do que a autorizada que não interessa à opinião pública. Desde que seja verdadeira, não importa quem deu a notícia. A assessoria de imprensa só vai divulgar o que interessa para ela. Quem está na vida pública, tem que lutar para ampliar o acesso à informação e não restringir. Quem não tem o que temer, não tem o que esconder”.
Por meio de nota oficial divulgada por sua assessoria, Joaquim Ribeiro afirmou que as medidas por ele adotadas não têm intenção de cercear o trabalho de repórteres. A finalidade seria disciplinar o andamento das sessões.
(APJ - Associação Paulista de Jornais)
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