por Luís José Bassoli
O primeiro encontro entre os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas eleitorais, transmitido pela Band na quinta-feira passada, foi marcado pelo equilíbrio, como era de se esperar, dada a qualidade dos convidados.
Dilma Rousseff demonstrou certo nervosismo, compreensível por ser seu primeiro debate e por estar no foco das atenções, ainda sob o impacto da pesquisa CNT/Sensus, divulgada horas antes, na qual aparece dez pontos à frente de Serra. Saiu-se bem, respondeu às perguntas, evitou usar o palavreado excessivamente técnico que a caracteriza – e que era a principal preocupação dos seus assessores –, sem deixar de apresentar dados e estatísticas. Buscou colar sua imagem a de Lula ao resumir que seu projeto é dar sequência ao atual governo.
Plínio de Arruda Sampaio reafirmou se tratar de um dos grandes nomes da política brasileira. É, pessoalmente, uma reserva moral, detentor de sabedoria ímpar. Seu ponto fraco é seu partido, o pequeno PSol, cuja postura isolacionista inviabiliza qualquer prática de governo. Plínio prega o sonho, o ideal socialista, é impossível discordar de sua teoria. Porém, a responsabilidade nos obriga a lutar pelo possível, ainda mais quando vemos que as mudanças estão em curso. Cabe lembrar que Plínio tem a mesma origem de Dilma, foi candidato ao governo de São Paulo e deputado federal pelo PT até se juntar a outros dissidentes para fundar o PSol.
José Serra aparentou ser a pessoa certa na hora errada. Sua capacidade técnica é inquestionável, mas o grupo político que lhe dá sustentação é por demais conservador, reacionário, e impõe uma agenda atrasada tanto em relação à economia quanto às políticas sociais. O tucano demonstrou dominar temas de gestão pública, falta-lhe, contudo, uma marca definitiva, um projeto que o identifique. Serra não conseguiu sair da encruzilhada em que se meteu: Poupou o presidente Lula sem assumir que seu governo é bom – se escolhesse por se opor ao presidente, iria desagradar à esmagadora maioria dos eleitores que o aprova; se optasse por elogiá-lo, acabaria credenciando sua rival Dilma. Na mesma esteira, tentou manter equidistância do ex-presidente FHC, nem defendeu nem criticou seu governo, e essa dubiedade não passou despercebida, refletiu a notória indecisão tucana.
Marina Silva foi previsível, não decepcionou, é certo, só que não conseguiu empolgar os espectadores. Confirmou que tem boa vontade, explorou bem o assunto meio ambiente, lema principal de sua campanha, e abordou com lucidez os espinhosos temas econômicos e administrativos. Seu bom desempenho, todavia, não foi suficiente para consolidá-la como a melhor candidata, na medida em que não tem uma base política forte o bastante para garantir que consiga governar. Assim como Plínio de Arruda Sampaio, Marina Silva construiu sua carreira no PT. Agora, sozinha em seu PV – partido que fará uma bancada ínfima de deputados e nenhum senador –, a ecologista não passou a sensação de segurança necessária para ocupar o mais alto cargo da nação. Teve o mérito de incluir a questão ambiental na pauta como nunca havia sido feito.
Entre alguns momentos de tensão, prevaleceu a cordialidade. Um exercício de democracia, todos tiveram a oportunidade de expor suas candidaturas. Nada que pudesse alterar o quadro que vem se desenhando, nenhuma novidade sobre o que já está sendo discutido publicamente há tempos, em entrevistas, encontros, plenárias, comícios.
A eleição segue com seu caráter plebiscitário, isto é, quem aprova o governo Lula e quer sua continuação, votará em Dilma; quem desaprova a atual administração e quer a volta dos tempos de FHC, escolherá Serra.